Caractere 1: Um E-mail
“Sou Koburo, moro em Oiko desde que nasci... conheço todos os habitantes desta cidade, só não garanto que todos eles me conheçam.
“Ultimamente tem chegado muitos imigrantes de Zorotta. Um terremoto devastou a cidade nos últimos meses.
“Aqui, além de ser uma cidade razoavelmente grande, é um lugar muito acolhedor, com suas praças e pessoas alegres.
“Eu amo essa cidade”
O telefone de Koburo toca e ele olha: “Um novo E-mail”
Koburo abre o e-mail.
Koburo (pensa): Número desconhecido...
O e-mail dizia:
“Tirar a vida que me pertence irei.
Marcado às 17 horas o fim está, sem atrasos ou precipitações.
Me ajude, você é a minha última chance.
RTG”
Koburo olha por alguns segundos e relê o pequeno poema.
“Tirar a vida...” “... 17 horas...” “Me ajude...” “Última chance”, essas frases mudaram por completo a vida de Koburo a partir que a informação foi armazenada em sua memória de curto prazo através de suas meras pupilas.
Agora ele suava.
- Será trote de gente que não tem nada pra fazer? - se perguntava Koburo
Mas a frase martelava a sua mente: “Me ajude...”.
Uma buzina de caminhão é tocada no momento em que ele arregala os olhos.
Tinha uma expressão de extremo pavor.
Ele correu sua mão vagarosamente, levando o celular até o bolso direito da jaqueta.
Agora ele andava, ou melhor, andava rápido.
Não. Ele corria.
O pânico, assim como a dúvida, tinha tomado por completo a sua mente.
Ele corria e chorava.
- Por que choro? Pode ser apenas uma infeliz brincadeira... – ele dizia-se, tentando recuperar o autocontrole.
Mas as frases não o deixavam pensar, “Tirar a vida...” “Me ajude...” “Última chance.” “17 horas...”.
Ele ouvia as vozes das pessoas, estavam entrando pelos seus ouvidos aleatoriamente, mas ele só conseguia pensar naquelas frases, “Tirar a vida...” “17 horas...”
Ele parou de repente.
- Não posso ter esse comportamento...
E frase voltava “17 horas...”
- Tenho que pensar com cautela. “17 horas”, sim...
Koburo olha o relógio digital e negro que está preso ao seu pulso: 15:37:12
- Tenho menos de uma hora e meia. Mesmo que haja a dúvida da veracidade do e-mail, eu não posso correr o risco de deixar alguém cometer um erro eterno.
Ele pega o celular no bolso direito de sua jaqueta marrom.
A mensagem ainda está em tela.
Ele analisa com toda a sagacidade.
Decide confiar no conteúdo.
Olha as letras escritas no final do pequenino texto. “RTG”.
- Essa sigla... é o nome de algum lugar...talvez um comércio...não me é estranho... – pensa Koburo.
Ele anda até o final da rua onde há uma loja.
Ele abre a porta da loja e o sininho alarma sua entrada.
A lojinha é constituída por várias estantes, preenchidas por revistas, utensílios e alguns pacotes de alimentos.
O balconista está a discutir com um comprador. A atenção deles não é desviada para Koburo.
Na loja só estão Koburo, uma Funcionária que está em um dos corredores, o Freguês que usa uma jaqueta e boné vermelhos e que mantém o tom de voz alto o suficiente para competir com o Vendedor, que tem uma idade superior à de todos já citados.
- Neste produto está dizendo um preço e o senhor vem me cobrar mais caro! – diz o Freguês mostrando uma lata de ervilhas para o Vendedor.
- O preço foi alterado, o rótulo irias ser mudado depois das 17 horas, entenda! – diz o Vendedor sem se intimidar diante do Freguês.
A frase volta martelar na mente de Koburo, “17 horas...”, e ele olha o relógio de parede da loja: 15:39:53
Isso lhe faz lembrar o seu objetivo.
- Procurar na lista telefônica o local de nome RTG e o seu endereço, ele deve tentar suicidar neste estabelecimento. – pensa Koburo.
Ele anda até uma prateleira giratória e põe a mão sobre uma lista de capa azul e espessura mediana.
Observa a Funcionária que varre o chão da loja.
Ela aparenta uns 26 anos.
Ele a olha e ela o olha. Os olhos dela são cansados e depressivos, tomados por intensas olheiras.
Ele não resiste à tensão e retorna seus olhos para a lista.
Pega a lista e se dirige ao caixa.
Os dois indivíduos continuam a discutir.
- Dane-se a mudança, eu exijo meus direitos! – diz o Freguês.
- Eu também tenho os meus direitos! – diz o Vendedor.
Koburo tenta chamar a atenção do vendedor para poder pagar pela lista.
- Com licença... Com licença eu quero comprar isso... Eu tenho pressa...! – diz Koburo.
Nada. Nem sinal de que algum deles notou a presença do jovem.
- Com licença! – ele diz.
Eles tenta aumentar a voz, mas esta já é baixa por natureza.
- Com licença – Ele tenta novamente com toda a sua paciência.
Neste momento uma linda Jovem sai de trás da loja e vem atender Koburo.
Ele se impressiona com tamanha beleza.
- Me desculpe pelo meu pai. Eles dois discutem pelo menos uma vez por semana – diz a Jovem com sua voz suave e meiga.
-... – Koburo fica sem voz.
-... Sabe, isso é um tipo de amor... – continua Jovem, ficando com o rosto corado.
- Sem problemas... – diz ele depois de certo esforço.
- Eu sou Enny.
- P-prazer, me chamo Koburo. – Ele fica com a face avermelhada.
Eles olham para baixo e tem-se um momento de silêncio.
- Ah, eu vou levar e-essa lista telefônica...
- Ah, sim...
Koburo paga a moça e sai da loja.
Se vira e olha através da vitrine aquela jovem beldade, que também o olhava.
Ela fica vermelha e sorri envergonhada, e ele retribui o sorriso.
Koburo desvia o olhar para o relógio: 15:49:02
- A hora passa rápido quando se tem pressa – pensa Koburo consigo mesmo.
Ele anda até um banco que tem ali perto. O banco fica em frente a uma casa abandonada.
Ele abre a lista e começa a procurar.
- RTG... RTG...
Sua procura é interrompida por um “psiu”.
Ele olha para os lados, e nada.
- RTG... RTG... – ele ignora e continua a sua procura.
- Psiu.
Ele olha para os lados. Nada.
- Espera... – pensa ele.
Koburo se vira e olha a casa abandonada.
- Psiu – ouve-se novamente.
- Calma ai... Essa casa não está abandonada?
- Ei, você no banco!
Koburo se levanta em um pulo e vai se afastando, de costas, da casa.